DANIEL FERNANDES
Fonte: O Imparcial
Data: 30 de maio de 2010
Pedro Ferreira e Júlio GomesDia 10 de junho é o Dia de Portugal. No país ibérico, é nesse dia que é relembrada a morte do poeta luso Luiz Vaz de Camões. É o dia como o Dia da Raça, um feriado nacional entre os mais importantes para o povo português. Com esse pensamento, o Conselho das Comunidades Luso-Brasileiras no Maranhão vai reunir membros e convidados para celebrar a data, que não é comemorada há três anos aqui no estado. O evento, um jantar, servirá como alusão às comemorações de Portugal, para reerguer na memória dos moradores portugueses do Maranhão a relevância da data, e para fortalecer a ligação do povo com o estado.
Nesse dia será lançado o site da comunidade luso-brasileira no Maranhão, a exemplo de outros estados que já têm comunidades representadas na web. Nesse site, além de falar sobre a cultura portuguesa cultivada pelos integrantes da comunidade, mostrará as belezas do estado, a cultura e a culinária local. Prevê espaços de destaque para os Lençóis Maranhenses, Barreirinhas e Alcântara, entre outros pontos turísticos. E servirá também para mostrar aos visitantes as atividades sociais realizadas pela comunidade luso-descendente. Segundo o presidente do conselho, Julio Moreira Gomes Filho, o poderá ser referência tanto para os brasileiros que não conhecem o Maranhão, e desejam saber dos pontos turístico e das ações da comunidade lusitana aqui, quanto para os portugueses que desejam visitar o estado.
Atualmente a comunidade portuguesa mantém aqui uma importante lista de instituições sociais e de caridade. Em São Luís, existe o Instituto Beneficente Áurea Faria, que proporciona atendimento médico de qualidade para a comunidade da Divinéia e adjacências há 15 anos. Os serviços médicos oferecidos no instituto incluem desde cínica geral até odontológica e ginecológica. Há também a Sociedade Humanitária 1º de Dezembro, composta originalmente por portugueses, e que mantém o Hospital Português, no Centro, e o Grêmio Lítero Recreativo Português, tradicional clube de São Luís.
O conselho também discute abrir em São Luís a Casa de Portugal. Poderá vir a ser um museu da memória do povo português no estado, onde poderão ser encontradas informações sobre o país ibérico, elementos da cultura e da sociedade, além de fotos e quadros antigos até hoje guardados pelos descendentes mais idosos. “Nada mais justo, afinal, são muito estreitos os laços que ligam Portugal e o Maranhão”, explicou o presidente do conselho, Júlio Filho, em visita a O IMPARCIAL nesta semana. No entanto, a construção desse centro de cultura ainda não é certa. O conselho está em busca de apoio e recursos para dar início ao projeto.
Segundo dados do Consulado Português no Maranhão, existem cerca de 500 inscritos como membros da comunidade luso-descendente. Mas, como explicou o presidente Júlio Filho, não há como ter um número exato porque somam-se a esse número os naturalizados portugueses, aqueles com dupla nacionalidade, os lusitanos natos que vivem aqui, e descendentes distantes. “Se somarmos todas essas pessoas, veremos que o número é muito maior, sendo que grande parte da sociedade tem um pouco de descendência portuguesa”.
O DIA DE CAMÕES
O Dia de Portugal, de Camões ou das Comunidades Portuguesas é celebrado no dia 10 de junho, sendo o dia em que se assinala a morte do poeta Luís Vaz de Camões em 1580. Camões representa um dos principais ícones da pátria, significado que os republicanos atribuíam ao 10 de junho, apesar de nos primeiros anos da república ser um feriado exclusivamente municipal de Lisboa. Com o 10 de junho sendo feriado, os republicanos da capital tentaram evocar a glória das comemorações de Camões em 1880, uma das primeiras manifestações das massas republicanas em plena monarquia. Várias capitais brasileiras comemoram anualmente o Dia de Portugal. As principais programações estão em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as cidades que mais concentram descendentes portugueses no país. Há três anos São Luís não realizava eventos em comemoração ao feriado lusitano. Este ano, será realizado o jantar no Residencial Recepções, bairro da Cohama.
POEMAS DE CAMÕES
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Ma como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrates nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto n”ao pode haver desgosto
onde esperança falta, lã me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n’alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
Luís de Camões
Canto VII (Os Lusíadas)
Já se viam chegados junto à terra,
Que desejada já de tantos fora,
Que entre as correntes Índicas se encerra
E o Ganges, que no Céu terreno mora.
Ora sus, gente forte, que na guerra
Quereis levar a palma vencedora:
Já sois chegados, já tendes diante
A terra de riquezas abundante!
(...)
Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego!
eu, que cometo insano e temerário,
sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
por caminho tão árduo, longo e vário!
VOSSO favor invoco, que navego
por alto mar, com vento tão contrário,
que, se não me ajudais, hei grande medo
que o meu fraco batel se alague cedo.
