Por Francisco Brandão
Portugal dispõe hoje de uma rede de comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo que pode ser mais potenciada. Devidamente apoiada por titulares de postos consulares com proximidade e com associativismo implantado, são uma vantagem que outras nações não dispõem. Ela alicerça-se em laços ancestrais coloniais ou de novas emigrações. É um tecido que conhece como ninguém o país onde reside e, assim, as nossas autoridades portuguesas, na promoção de Portugal, e os nossos empresários portugueses, na sua internacionalização, têm uma vantagem competitiva quando são acolhidos pelas nossas comunidades portuguesas locais Importa que os experientes membros da comunidade portuguesa local sejam consultados pelos empresários que buscam implantar-se nos seus países. Por outro lado, também seria importante que os empresários locais se inscrevessem na rede de Câmaras de Comércio, mesmo já integrados e influentes na sua região.
Na sua primordial função de “promoção e valorização das comunidades” , os postos consulares devem ser articuladores de apoios ao associativismo e promotores de ações de integração da comunidade. Apenas desta forma a sucessiva aquisição de nacionalidade portuguesa pelas gerações de luso-descendentes faz sentido e tem terreno para ser cultivada no país de residência. Só através do associativismo, devidamente apoiado com proximidade pelos titulares dos postos consulares, se potenciam e valorizam as comunidades portuguesas.
Um exemplo de comunidade de referência é o que encontrei na minha jurisdição, do Acre ao Maranhão, numa área de dimensão subcontinental. Nos Estados do Pará, Amazonas e Maranhão dispomos de três associações literárias recreativas de grande projeção e influência e três grandes hospitais.
Estão organizados em Conselhos da Comunidade Luso-brasileira que reúnem todas as associações nesses três Estados. Outras agremiações compõem ainda um naipe de opções para exercer a cidadania luso-brasileira nas vertentes desportivas, culturais ou lúdicas. Não há desculpas para não cultivar a sua nacionalidade portuguesa na Amazônia e no meio-norte do Maranhão. Visitei em serviço as nossas comunidades em todos os seis Estados com muita regularidade, inclusivamente em permanências consulares. Foram vinte e quatro deslocações em serviço fora do Pará. Recebemos as honrosas visitas e apoios de Sua Exa. o Embaixador de Portugal Jorge Cabral e de Sua Exa. o Secretário de Estado da Comunidades Portuguesas José Luis Carneiro tanto em Belém como em Manaus e São Luís. Onde não existia, estimulámos a criação de Associações em Macapá (Amapá), e Boa Vista (Roraima). A pujança das suas atividades iniciais só comprova a generosidade das nossas comunidades e o desejo latente para que Portugal as apoie. Com os cinco Estados referidos e o Acre, onde já existia uma Associação, compusemos todos uma rede de Associações do Norte que já realizou duas edições do seu Encontro, tanto em Belém (Pará), em 2017, como em Manaus (Amazonas), em 2018. O próximo encontro será em Junho 2019, em São Luís (Maranhão). A significativa participação nos sufrágios eleitorais portugueses é outra referência das comunidades portuguesas no Norte, na eleição para a Assembleia da República, Presidência de República, Parlamento Europeu e Conselho Mundial das Comunidades.
O nosso serviço só se completa porque dispomos de dois Consulados Honorários, em Manaus (Amazonas) e São Luís (Maranhão), com abnegados serviços voluntários prestados. Têm competências acrescidas como reflexo da sua importância e, por outro lado, da soberana confiança de Portugal, que lhes atribuí essas funções. Com a dedicação da nossa Chanceler e da nossa Assistente Técnica foi realizada a Missão de serviço público que agora encerro após uma curta renovação de mandato. Foi, como sempre é, uma honra servir Portugal neste trabalho e dedicar três anos da minha vida à Amazônia que levarei sempre comigo onde estiver como, aliás, todos os meus colegas que me antecederam neste posto consular. Grato a todos os Colegas Cônsules da Associação Consular no Pará e a todas as Autoridades dos seis estados que colaboraram e me receberam de forma muito prestativa na nossa Missão em especial Belém e o querido Pará onde residi.
“o que um faz, por todos faz; o que a coletividade avança a cada homem favorece. “
Agostinho da Silva
Por Francisco Brandão
Vice-Cônsul Portugal em Belém em artigo de despedida para o Mundo Lusíada
24 de Agosto 2015 a 31 de Outubro de 2018